quinta-feira, julho 07, 2016

A essência e a transformação

   As circunstâncias da vida vão, aos poucos, me deixando mecânica. Tem horas em que apenas obedeço os comandos do meu cérebro e não paro para refletir sobre nada! Aliás, quem nunca passou por isso?!
   No entanto, entre maio e abril últimos, enquanto fazia um longo e difícil trabalho de mestrado, tive um momento de epifania, algo raro nessa minha vida corrida, de muitas leituras, trabalho e estresse. Tudo se sucedeu a partir dessa frase:
         





       Não se pode banhar duas vezes no mesmo rio. (Heráclito de Éfeso)




     Tal filósofo, do período pré-socrático, defendia que as coisas e as pessoas viviam em constante transformação, mudanças. O conhecimento seria alcançado através da experiência pessoal, da opinião. Entretanto, opondo-se a tudo isto, temos outro pré-socrático, Parmênides de Eléa, que defendia que a Verdade (Alétheia) jamais poderia vir da opinião (Dóxa), isto é, daquilo que não se tem certeza. Defendia, pois, o filósofo, que o ser era imutável e que as experiências não passavam de ilusões.






     Não! Não esperem que eu diga qual filósofo parece estar correto. Não me sinto na posição de dar um parecer tão profundo. Mas fiquei pensando nesses dois pensadores e em suas ideias diametralmente opostas. Pensei um pouco sobre a minha vida. De fato, não sou a mesma de 30 anos atrás, nem a mesma de ontem e nem de minutos, segundos recém-passados. As transformações são contínuas. Se quando eu era mais nova achava o fim da picada passar um sábado a noite em casa vendo um filme, atualmente fazer essas atividades triviais são tudo o que mais quero! Me transformei, me transformo e me transformarei sempre! Se antes eu gostava de debates na Internet, agora dispenso discussões banais nas redes sociais e "amigos" dominados pelo fanatismo político e troco-os por uma esticada no sofá, ao som de uma boa música.
      Você também mudou, muda e mudará constantemente. Enfim, eu e você somos heraclitianos, é fato! Mas às vezes, Parmênides bate a nossa porta e faz com que jamais percamos a nossa Verdadeira Essência. Posso amadurecer com as minhas experiências, mas a minha essência vai continuar lá, intacta. Vou ser sempre questionadora, sarcástica e leitora ávida, com sede de aprender! E, desse jeito, sou há 32 anos e sempre serei!
        Acho que somos um misto de Heráclito e Parmênides: por mais que as experiências nos façam mudar, a nossa essência sempre será a mesma!