sexta-feira, março 11, 2011

Rio de Lágrimas

Por Jairo Barbosa da Silva
                                 Palácio do Catete, sede do Governo Federal quando o Rio era a capital do país

          Volta e meia lemos, ouvimos e vemos nos meios de comunicação o lamento de cariocas que atribuem à mudança da capital do país para Brasília a culpa do retrocesso econômico da cidade do Rio de Janeiro.Essas pessoas, ou não sabem ou se esqueceram de que, ao tornar-se a capital do país, o Rio foi implantando e usufruindo de uma infraestrutura que nenhuma cidade brasileira tinha!
          Nossa cidade era o principal centro econômico e financeiro do país, era industrializada, com um comércio amplo e dinâmico; possuía o principal porto marítimo do Brasil, juntamente com a indústria naval que dava suporte a esse setor. Ainda era um polo cultural e tinha(na verdade ainda tem) um invejável potencial turístico.
         Agora eu pergunto: quantas cidades brasileiras possuíam, na época da mudança da capital (em 1960), tudo isso que o Rio de Janeiro tinha? Resposta: NENHUMA! E tudo isso foi mantido aqui! A mudança da capital não foi a culpada de o Rio ter perdido, ao longo do tempo, tudo de bom e importante que foi construído e conquistado. Brasília não tirou nenhuma fábrica daqui, nenhum estaleiro,nenhum comércio,nenhum museu,nenhum centro cultural nem tampouco pontos turísticos. Para Brasília foram exatamente apenas aqueles setores que nada produziam ( em termos de divisas) e continuam sem produzir, ou seja, burocratas, tecnocratas, deputados, senadores, ministros, "A.S.P.O.N.E.S." e demais órgãos federais. Resumindo: setores que só geram despesas. Os setores produtivos permaneceram aqui. Além disso, também ficaram as estruturas que possibilitariam à cidade a caminhas com suas próprias pernas. O LAMENTO DOS CARIOCAS NÃO TEM FUNDAMENTO ALGUM!


                                          Para Brasília só foram os setores que só geram despesas!




         Convém lembrar que a transferência da capital não foi feita da noite pro dia. Houve tempo suficiente para planejar a cidade para uma Nova Era, uma nova realidade. Se isso não foi feito por quem deveria fazer, paciência! Perderam o "Bonde da História"! Será que o desenvolvimento do Rio tem que estar atrelado à condição de ser capital do Brasil?! E o que dizer de cidades que alcançaram alto índice de desenvolvimento sem nunca terem sido capitais de nada? Se analisarmos bem, o carioca chora de barriga cheia. A falta de visão, planejamento, determinação e integridade de governantes "borra-botas" é que foram fundamentais para a estagnação econômica da cidade.
        Somando-se ao fato de o Rio não ter sido preparado para assumir a condição de ex-capital do país, a fusão com o restante do Estado também é apontada por uma corrente de entendidos em Economia como um dos fatores responsáveis por essa estagnação. Não sou economista, mas bem que concordo com essa corrente. Até hoje essa fusão é vista como não sendo benéfica para nenhuma das partes.
        Deixando as divergências de lado, a realidade é que nossa cidade era autônoma em decorrência de ser a capital da República: tinha vida própria e,como Cidade-Estado ( condição em que permaneceu de 1960 até 1975), as possibilidades para manter-se em seu desenvolvimento teriam sido mais promissoras e hoje,talvez, poderia ser uma Cidade-Estado brasileira, rica e com destaque no cenário econômico mundial, como é o caso de Cingapura. À propósito, comparemos o Rio de 1960 com a Cingapura da mesma época. Em 1960 o Rio já era uma metrópole e capital de um país. E Cingapura? Esta era uma colônia inglesa que vivia em estado de extrema pobreza e que em 1963,conseguiu sua independência para formar a Malásia. Porém,essa fusão não deu certo e em 1965, conseguiu finalmente a sua independência. Hoje, 46 anos depois de sua independência, Cingapura é uma potência econômica, tecnológica e turística. E o Rio? Bem, este continua chorando, atribuindo todas as suas mazelas ao fato de ter perdido a condição de capital do país.

                                           Cingapura é uma potência econômica, tecnológica e turística




           Outro fato constantemente citado quando o assunto é a estagnação econômica da cidade do Rio é o descaso, ou melhor, o boicote dos governos federais em relação aos investimentos na cidade. A partir do Golpe Militar de 1964, o Rio se tornou um reduto de oposição aos governos federais, sendo visivelmente penalizado por conta dessa postura.
          Mesmo levando em consideração tudo isso que já foi citado acima,será que a 2ª cidade mais rica e mais importante do Brasil, com inúmeras vocações para investimentos, precisa ficar refém de verbas federais? Eu acho que não. A cidade em questão não é uma cidadezinha qualquer, sem atrativos econômicos e que precisa de repasses de verbas estaduais e federais para sobreviver. A cidade em questão é o Rio de Janeiro, conhecida no Brasil e no mundo como a "Cidade Maravilhosa"! Qual é o empresário, seja brasileiro ou estrangeiro, que não gostaria de investir numa cidade como a nossa? Muitos gostariam. Plagiando Pero Vaz de Caminha, o Rio é uma cidade onde " em se investindo,tudo dá", seja no comércio, na indústria, na prestação de serviços e principalmente naquela que é a maior vocação da cidade: a vocação turística. Esse setor,infelizmente, é pouco explorado por aqui.
         Voltando ao discurso, qualquer empresário gostaria de investir na Cidade Maravilhosa, porém a falta de políticas fiscais mais atraentes que a concorrência e a falta de segurança pública, afastaram os possíveis novos investidores da cidade e aqueles que já estavam estabelecidos aqui, transferiram as suas empresas para o interior do Estado e também para outros Estados que lhes ofereceram condições mais vantajosas para operarem. Tomo como exemplo o setor industrial, que sempre teve grande destaque na economia da cidade.
         A partir da década de 80, o esvaziamento do parque industrial do Rio de Janeiro foi catastrófico. A rotina de sequestros de pequenos, médios e grandes empresários dessa área e os inúmeros assaltos aos seus estabelecimentos teve o efeito de uma tsunami: só deixou destroços! Quem quiser conferir o que estou falando, basta dar uma volta pelos bairros onde havia grande concentração de fábricas, como os bairros de Jacaré, Inhaúma, Del Castilho ( onde, nos lugares que eram ocupados por duas grandes fábricas, hoje são ocupados por dois shoppings: Nova América e Norte Shopping, casos raros), Ramos, Penha, Olaria, Bonsucesso, São Cristovão, Avenida Brasil e as rodovias Presidente Dutra e Washington Luis e nesses lugares encontrará galpões e prédios abandonados, alguns em ruínas e outros ocupados por sem-tetos. Onde outrora havia empresas e, consequentemente, empregos, hoje só tem decadência. Volto a afirmar :Brasília só tirou do Rio a condição de capital do Brasil! A derrocada econômica do Rio é culpa, única e exclusivamente de quem administrou a cidade, desde 1960 até hoje. Chororô, nesse caso, não põe mesa , não dá camisa e principalmente,não dá dinheiro!
       É hora de cariocas nativos e de coração esquecerem essa "lenga-lenga", pegarem o "Trem Bala da História" e tentarem recuperar o tempo perdido. Caso contrário, ficarão vivendo de passado, nostalgia, arrogância e assinando o próprio estado de incompetência!



PS: Esse desabafo é de um mineiro de 62 anos de idade de 55 e Rio de Janeiro, que vê essa mesma cidade com outros olhos. Sabe e acredita que o Rio está acima do olhar medíocre dos seus governantes e de boa parte da sua população,que não conseguem ver o tesouro que têm nas mãos!

         

3 comentários:

Arthur Caldas disse...

Que texto magnífico... Eu, como historiador e advogado, fiquei impressionado com a análise feita e que poucos possuem coragem de escrever. Maravilha! Já indiquei no meu twitter!!

João F. Junior disse...

Texto excelente, de um Carioca de adoção, e Mineiro de nascença, que compartilhou de toda essa trajetória histórica e sabe o que diz, porque viu acontecer.
Eu acho que é momento sim, ou melhor, já pasou do momento de a página ser virada e mais uma vez "reinventarmos" essa mutante cidade.
Acho que o que no passado foi ruim hoje se tornou bom, no caso da fusão, visto a riqueza desse interior que começa a gerar divisas para o Estado.
Sou muito otimista em relação ao Rio de Janeiro porque ela tem a marca dos vencedores no seu DNA , e nada e nem crise nenhuma conseguiu apagar isso.

renhist disse...

Muito bom,ótima contextualização histórica!Agora meus "pitacos" Realmente Brasília é a sede administrativa,o sudeste é responsável por grande parte da atividade industrial.Na verdade, creio que com o aumento populacional o RJ não comportaria a estrutura de uma capital, tão pouco SP de qualquer maneira a capital seria transferida, isso seria(e foi) uma questão de tempo. Brasília é um lugar estratégico para a questão de defesa, esse era o pensamento do período, vendo sob a ótica histórica Brasília é sem dúvida terra de ASPONES.
E o que falar da administração?Se esse povo está lá, nós somos culpados pois elegemos essas figuras.
Um breve comentário histórico:Década de 60, começaremos com JK(1956/1961) que para modernizar o país promoveu várias dívidas, empréstimos etc.Jânio(1961) não ficou atrás, Jango(1961/1964) tentando uma política para conter o avanço do capital estrangeiro sofreu um golpe militar(para os civis) e para os militares uma revolução(porque acabaram com uma possível ameaça comunista .Afinal, eram apoiadores do capital estrangeiro), vem a ditatura que trouxe altos indíces inflacionários. O pós 1985, sem comentários: fila disso, daquilo, máquinas prontas para aumenatr preço de manhã, de tarde...
Apenas com o Real a coisa começou a se modificar, no governo de Itamar e com contnuidade no governo de FHC, embora tenha muitas críticas a seu respeito.
Hoje temos um país mais fortalecido, com maior credibilidade! A união do governo federal com o Estado e a prefeitura faz toda a diferença, antes não tínhamos isso, apesar das críticas de muitos,não quero dizer que os profs por exemplo tem ótimos salários e que tudo é um maravilha, perfeito. Apenas, se comparamos a economia e avanços sociais do século XX, veremos que a do século XXI está bem melhor, isso é comprovado historicamente.Está mais do que na hora de pegar o "Trem Bala da História" e fazer a sua própria história, ao contrário do que muitos pensam a história não é apenas o passado e sim, acontenciemntos de cada segundo.